Hoje acordaste cinzenta.
Ocre, baça.
Tens dias assim, não tens paciência, acordas
arrogante, cheia de ti mesma.
Porque sim. Porque amanhã se te apetecer,
acordas soalheira e feliz, generosa e bonita.
Com a luz que é tua. Que emprestas a quem queres,
não a quem a quer, isso é que era bom.
E depois vais passear-te pelas tuas colinas, e
desces junto ao teu rio. Onde permites que habitem estranhos. Os teus.
Os que escolheste, mas que sabiamente
influenciaste a acharem que a escolha é deles.
Que te escolheram. E tu gargalhas com força.
Como se fosse possível.
E dás de seguida uma voltinha pela Baixa
Pombalina. Flores, castanhas, jornais e skaters na Praça da Figueira.
O Marquês havia de gostar. Deu tanto trabalho
a projectar a cidade nova.
Ó freguesa venha ver!!!!
Olha, diz que é Junho e que há Santos
Populares.
As meninas dos bairros ensaiam há um ano. Ah
pois é, já dizia o outro…podes sair do Bairro um dia, mas o Bairro não vai sair
de ti.
É tudo teu.
Mas hoje estás uma mãos largas. E vais a Belém
e vais aos Jerónimos e vais ao Padrão.
Ó freguesa, hoje é dado!!
E se te apetecer, sobes a Calçada da Ajuda.
Ninguém manda em ti. Tu é que ordenas a tudo e
todos, do alto da tua vaidade.
Eu se fosse a ti, também era assim. E depois?
Agora vou almoçar, dizes tu, vou ao Castelo.
Lá de cima tenho-os aos pés. Aos meus, dizes tu.
E vais de Miradouro em Miradouro beber café, e
ouves os sinos a repicar e os pombos a voarem feitos loucos.
Malvados, sujam-me tudo.
Mas não te importas, que amanhã chove e limpa
tudo.
Ó freguesaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!
Ali em Alfama é que se está bem. Escondes-te
em cada esquina e vigias.
Não te escondes, apoderas-te de cada esquina,
que é diferente.
Mas quem é que manda aqui afinal?
Ou se tem, ou não se tem. Ó freguesa, se não
tem já não lhe nasce!
E ris-te, desdenhosa. Porque sim.
E vais lanchar, repousar, ali na Bica. Bonito
elevador. É teu.
Vejo-te a seguir para o Chiado. Deixaste lá a
Brasileira com um escritor.
Um tal de Fernando qualquer coisa.
Ó freguesa, estão a acabar, estão quentinhas!!!!!
Mas ainda vais ao Bairro Alto, sobes por
Campolide e desces pelo Saldanha até á Estefãnia.
Giras pela Almirante Reis, está bonita agora.
Sobes á Graça.
Sentas-te ao lado da Igreja e aprecias a
paisagem.
Aprecias-Te.
Tornaste-te una, e relaxas.
E partilhas, e misturas-te com as pessoas, que
habitam em ti.
Dão-te vida. Fizeram de ti quem és hoje,
Mulher!
Cidade. Lisboa. Da Minha Vida.
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