domingo, 17 de maio de 2015

Terra do Nunca

Sabem aquela sensação de terem passado um dia ao sol, e as baterias estarem automaticamente carregadas?

Hoje sinto-me assim. Bastou um dia de sol, mar e praia e sinto-me capaz de mais umas quantas voltas no carrossel da vida. Do quotidiano de todos os dias.
Que é bom. Eu gosto de rotinas. Das minhas rotinas na cidade.
Sou uma miúda da cidade, diria.
Mas gosto também muita de as interromper, nem que seja por um dia ou dois.
Gosto de as interromper para ter outras rotinas mais pequeninas, e que me dão tanto prazer.

Gosto da rotina da terra da minha avó, pequenina aldeia piscatória, um micro mundo. Desde criança que é o meu micro mundo muito especial.
O ir ao café de chinelos, o atravessar a rua de robe para ir buscar o pão fresquinho ali à mercearia. Mercearia / Café / Salão de Jogos / Local de convívio matinal para as mulheres da aldeia.
Gosto de abrir a janela, ou andar no quintal e cumprimentar todas as pessoas que passam na rua.
Bom dia menina! A avó está boa? E a mana? Saúdinha é o que é preciso!

Gosto deste contacto com as pessoas. Gosto que as pessoas perguntem por mim e pelos meus. Gosto de responder com um sorriso e descansar aquela boa gente na sua curiosidade.
Afinal só nos vêem quase uma vez por ano, e é apenas justo que perguntem tudo o que queiram saber.
Gosto desta coscuvilhice natural e espontânea.
Gosto de lavar o carro na rua, com a ficha do aspirador a passar pela janela, acrobaticamente colocada.
Gosto de lavar os pés com a mangueira do quintal, e andar no quintal de pés descalços.

É a Terra do Nunca, como carinhosamente lhe chamo.
Nunca há rede móvel, nunca há demasiado sol, nunca está demasiado calor. Típico das aldeias junto ao mar.
Tão bom.

Foram tantas as vagas da minha vida ali passadas, ali confidenciadas, naquela praia, naquele pinhal, na alma daquela terra e daquelas gentes.
A primeira grande vaga da minha vida, como lhe chamo. Onde aprendi tanto. Com os primos, as primas, com os namoricos, e onde caí tantas vezes de bicicleta.
Sempre com aquele mar como testemunha.
Sempre com um sentido enorme de respeito pelo tempo que me foi emprestado por aquela terra.
Ainda hoje os olho de maneira diferente, quando por eles passo na rua.

Sinto que a minha Terra do Nunca foi um rito de passagem.
O meu. Onde me tornei crescida.
E como me tornei no que sou hoje.

Crescida e com as baterias carregadas.













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