quarta-feira, 29 de abril de 2015

Bullying

Traumas de infância.

Quem não os tem é um sortudo. Desde já admito a minha inveja.
Inveja Branca (a boa, a que não causa mal a ninguém).

Quem não lembra com um semblante um bocadinho menos alegre alguns dias de escola primária,  preparatória e secundária, em que os colegas não foram assim tão simpáticos?

Eu lembro-me. Eu pertenço a este clube.

Na altura não tinha nome, não se chamava bullying. Chamava-se "gozar".
E ou se encaixava o gozo e se continuava na nossa vidinha, ou não se encaixava e se dava um estalo no coleguinha e se ficava de castigo o resto do dia.
Ou, no meu caso, encaixava o gozo mas não continuava na minha vidinha serenamente.

Mesmo com 5 e 6 anos, em que usei óculos correctores para o estrabismo (vulgo zarolha, cegueta e afins), não achava muito normal este tipo de "gozo". Se já tinha dificuldade em ver para o quadro, ainda mais me afligia o ter uma pala de borracha numa das lentes, que me dificultava ainda mais a visão. Tinha um olho preguiçoso, diziam-me. Ainda sinto o cheiro daquela borracha por cima do nariz.
Verdade seja dita, hoje tenho os olhos direitinhos. Cansados, é certo, uso óculos com o mínimo de dioptrias, mas direitinhos.

O que dizer das botas ortopédicas, que aparentemente eram modelo único e todos tínhamos umas iguais?
No meu caso, era por causa dos joelhos tortos. Batiam um no outro, e a aparência não era das melhores. Vulgo "côxa", manca, etc. Miminhos do melhor.
Hoje é possivelmente a parte do meu corpo mais ginasticada, e mais elegante. Farto-me de usar saias e calções. Uso e abuso.

E o facto de ser tímida e ter vergonha de falar em público, de ser chamada pela professora, e de tremer como gelatina sempre que falavam comigo?
Aliado ao facto de ser a marrona da turma, a que sabia sempre as respostas, a que tinha melhores notas, não me ajudou em nada.
Lembro-me de passar os recreios sozinha, acho que brincava comigo mesma na altura.

Houve uma vez no recreio em que fui atirada contra uma porta, que tinha um vidro e se partiu em mil caquinhos. Nunca cheguei a perceber quem me tinha empurrado. Mas sei que a minha mãe teve de pagar o vidro.

Entretanto os anos foram passando, e a vida foi-se encarregando de colocar tudo no seu devido lugar. Fá-lo sempre.

Não é um discurso triste ou amargurado, é mais um relato nostálgico de algo que afinal já acontece há tanto tempo, e a que é tão necessário colocar cobro. Travar. Parar.

Hoje tenho noção do que me aconteceu. Na altura não tive.
Poderia ter-me tornado numa revoltada, rebelde sem causa, uma qualquer malfeitora das que enchem as páginas dos jornais da especialidade (sem serem especialistas na realidade).

Felizmente segui outro caminho, tive o discernimento necessário para catalogar aquela fase da minha vida como "uma fase", e foi com esta visão que moldei a minha maneira de ser e de ver o mundo.

Pode não ser a ideal, mas é correcta. Com os outros, que respeito.
Que considero.

É como interajo com quem me rodeia. Comigo.

E acho que é o caminho. O meu, para chegar mais longe, para ser maior, e para sentir esta paz que me tranquiliza.
Todos os dias.














































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